Consultório cheio, filas grandes e atendimento só com hora marcada.
O Dr Anderson é sem dúvida um homem muito ocupado e importante. Proprietário de um consultório de dermatologia e procedimentos estéticos servindo quase que exclusivamente grande parte da cidade, ele conseguiu estabelecer para si mesmo um negócio que muitos poderiam dizer ser financeiramente perfeito. De um lado, pacientes afluentes e que desejam realizar retoques estéticos prontamente abrem suas carteiras para receber seus renomados serviços. E do outro, pacientes com outros problemas dermatológicos fazem uso dos seus planos de saúde para serem atendidos, permitindo a Anderson lucrar das duas formas.
Combinando esta estratégia com uma demanda virtualmente infinita (notada pelas filas constantes na espera do consultório em qualquer dia do ano), o consultório de Anderson é uma verdadeira máquina de gerar dinheiro, da qual ele sem dúvida alguma conseguiu usufruir para se tornar muito rico, mesmo com o altíssimo investimento inicial para começar a exercer sua profissão. Em menos de um ano trabalhando, ele facilmente já poderia ter recebido todo o dinheiro que precisaria para se aposentar.
E mesmo assim, diante destas montanhas e rios de dinheiro, ao me consultar com Anderson, não pude deixar de notar que ele não parecia estar satisfeito com a vida. De fato, ele parece desconhecer qualquer forma de satisfação ou felicidade.
Cansado e com uma carranca visível de sobrecarga de trabalho, Anderson fala com uma voz moribunda e com um humor pesado, não querendo papo e não dando abertura para nenhum “a mais” da parte dos pacientes. Levanta a voz e demonstra irritação quando os pacientes levantam perguntas sobre os tratamentos. Mas a julgar do pseudo-monopólio que conseguiu na região, poucos procurariam uma alternativa.
Embora intragável, o constante mau-humor de Anderson tem explicação: o doutor trabalha quase que de domingo a domingo em virtude de que não possui ninguém que pode substituí-lo no consultório. Seja no atendimento, procedimento ou acompanhamento, sua secretária e assistentes não podem substituí-lo. Anderson acabou se atando às responsabilidades do seu trabalho, tornando-o de fato a sua vida.
A história de Anderson ilustra bem a antítese do estilo de vida que eu almejo viver: o do escravo altamente remunerado. É a clássica história daquele trabalhador pobre que, almejando tornar-se rico, enterra-se no trabalho e vive em prol do salário recebido, tornando-se literalmente um escravo dele. Eu acredito que trocar o seu tempo e liberdade por dinheiro é um negócio fundamentalmente perdedor, e qualquer adepto ao FIRE deveria tomar muito cuidado para não caminhar nesta direção.
Vamos ver neste post quais os perigos de se adotar um estilo de vida como tal, e quais são as alternativas inteligentes.
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