Abril é o mês da educação financeira no Pinguim Investidor! Em comemoração à este fato, vamos revisar alguns conceitos básicos da educação financeira. Veja outros posts desta série aqui
Quando começamos a aprender sobre finanças, aprendemos que economizar dinheiro é geralmente o primeiro e mais simples passo que podemos dar em direção ao grande objetivo de nos tornarmos independentes financeiramente.
Nestes primeiros momentos de iluminação financeira, podemos ver a importância de viver uma vida mais financeiramente eficiente é a chave para começar a “virar o jogo” e propriamente enriquecer, mas tendemos a não distinguir muito bem qual é a diferença entre eles. No começo, esta falta de distinção não causa muito problemas, pois nossas prioridades nesta etapa são diferentes: precisamos sair das dívidas e aumentar nossa renda antes de começar a pensar em investir.
Porém, conforme avançamos e nos tornamos mais amadurecidos financeiramente, temos que parar e compreender a diferença por completo. Misturar os conceitos de poupança e investimento pode causar confusão grande, como evidenciada em perguntas como “qual é o melhor investimento para curto prazo?” ou “qual investimento posso sacar em um ano?” E, finalmente, com a queda constante da Selic desde o ano passado, muitos se questionam até se a renda fixa se classifica como um investimento.
Este post clarificará a diferença entre os dois através de duas variáveis cruciais.
A definição de investimentos do Pinguim Investidor
Primeiramente, preciso clarificar qual é o significado que o termo “investimentos” tem para mim. Ao passo que existem muitas definições para esta palavra, eu sigo uma definição forte, focando num objetivo específico. Acredito que o propósito principal do investimento deve sempre partir do ponto de vista previdenciário.
Isso significa que, não importa o meio ou o método que ele seja realizado, o investimento sempre deve ter como objetivo principal fornecer renda passiva de forma previsível e constante para o investidor (um conceito chamado de fluxo de caixa). Este princípio é o fundamento do filosofia que entitulo de Cash Cow de defesa do patrimônio. Quaisquer veículos ou venturas que se encaixem nesta definição são consideradas investimentos para mim.
Na renda variável, por exemplo, isto acontece de forma natural através da distribuição de proventos. Na renda fixa, isto também pode ser aproveitado através da utilização apenas dos juros compostos recebidos ao longo do tempo, sem utilização do principal investido. E em caso do mercado imobiliário, aluguéis recebidos de inquilinos satisfazem bem a condição previdenciâria.
Através desta definição, porém, acabo excluindo alguns ativos que outros investidores não teriam problema para classificar como investimentos. Qualquer ativo que não gera fluxo de caixa para mim não é considerado um investimento previdenciário seguro. Commodities como o ouro, frequentemente utilizado como hedge, e petróleo são alguns exemplos, assim como investir em Dólar, câmbio, e – não podemos esquecer – as criptomoedas.
Pode ser que a minha definição de investimentos não seja a mais correta, ou que você discorde em parte, mas é pela qual eu realizo o meu planejamento financeiro. Com esta definição acordada, vejamos onde os atos de investir e poupar se diferem
A diferença do tempo
A primeira dimensão na qual o investimento e a poupança divergem é no quesito do horizonte de tempo.
Poupar geralmente se preocupa com atingir o objetivo num curto espaço de tempo, geralmente quanto mais rápido possível, melhor. Peguemos, por exemplo, uma pessoa que aspira fazer uma viagem internacional nas suas próximas férias. Ela já possui um curto espaço de tempo planejado – até as suas próximas férias – e portanto precisaria maximizar o seu aporte, “apertar os cintos” para fazer o seu aporte crescer o suficiente para acertar o prazo.
Esta pessoa tem algumas ferramentas em seu arsenal que poderia utilizar para este objetivo: cortar gastos supérfluos, começar a trazer a comida de casa ao invés de gastar, se exercitar em casa ou na rua ao invés de uma academia, etc. Todos estes métodos auxiliam em dois quesitos: aumentar a taxa de aporte, e diminuir o tempo necessário para atingir o objetivo financeiro da viagem.
Em pleno contraste, o investimento busca o oposto em termos de tempo: investir não tem prazo. O que, a primeira vista, parece ser ilógico logo é esclarecido quando voltamos à definição do Pinguim sobre o investimento previdenciário.
Quando o nosso objetivo é a independência financeira e a garantia da aposentadoria, não faz muito sentido colocar um prazo no investimento, exceto se estivermos planejando algo como atingir a IF até uma certa data. O investimento em si não possui prazo, e idealmente estará conosco até o fim de nossas vidas.
Você pode usufruir das mesmas ferramentas que lhe ajudaram para maximizar os objetivos da poupança para melhorar os seus investimentos, mas uma ferramenta ideal aqui é o seu mindset: se você corretamente entender os seus investimentos como uma forma de prover uma renda previdenciária pela vida, irá valorizá-lo e protegê-lo de tentações emotivas tais como ocorrem durante os períodos de queda na bolsa.
Se o investimento não possui prazo, então como devemos priorizá-lo ou mensurá-lo? Através dos seus objetivos e seu escopo previdenciário.
A diferença no escopo
A segunda grande diferença entre poupar e investir é em relação aos objetivos de cada um.
Ao pouparmos, não só temos um prazo bem-definido e otimizado (o mais curto possível), mas nossos objetivos são igualmente bem-definidos. Quando poupamos, temos um número em mente como target. Orçamos que uma viagem nos custará R$4000, ou que um carro novo custará R$45000. Assim como no quesito de prazo, a poupança também tem um início e um fim – este acontecendo no momento que alcançamos ou ultrapassamos a quantia que tínhamos como objetivo de poupar.
O investimento se difere aqui por conta de ter uma abordagem diferente no que se diz respeito aos objetivos financeiros. Por um lado, é possível traçar um objetivo bem-definido amplamente testado através da famosa Regra dos 4% e a taxa segura de retirada, numa estratégia que condiz tanto com a renda fixa ou variável, e desta forma, o escopo do investimento é similar à poupança: aporte até chegar ao número mágico e viva dos proventos depois.
Porém, investimentos de verdade por natureza envolvem renda passiva, portanto podemos definir este objetivo de outra maneira: quando todos os proventos dos seus investimentos ultrapassarem o seu custo de vida adicionado de uma margem de segurança, você estará financeiramente independente. A partir deste ponto, trabalhar e continuar a aportar para investir se torna opcional, já que técnicamente todo o seu custo de vida está coberto pelos proventos do seu patrimônio.
Você pode optar por continuar a trabalhar da mesma forma para aumentar ainda mais um pouco as camadas de segurança entre os proventos variáveis do seu patrimônio e a sua reserva líquida, mas o ponto importante é que nesta condição, você já se torna independente do seu trabalho. E este é um objetivo que todos – não somente quem deseja ter aposentadoria precoce – precisa ter em mente na vida.
Cada ferramenta para o seu caso específico
Como vimos, poupar e investir como verbos podem parecer bem similares uns aos outros, mas debaixo do capô possuem diferenças palpáveis. Assim, não é surpresa que os veículos de investimentos que devemos alocar para cada um precisam ser diferentes também.
Para a poupança, precisamos de um produto que seja altamente líquido e com rentabilidade previsível e de pouco risco. Sabemos que para o curto prazo, nada irá nos enriquecer tanto quanto simplesmente a nossa receita total, portanto não há porque investir em algo como ações, com suas oscilações de curto prazo. Para estes objetivos de relativamente curto prazo, não há nada de errado em deixá-los na poupança, ou numa aplicação conservadora como o Tesouro Selic.

Os investimentos, porém, precisam ser pensados em termos de rentabilidade ao longo prazo, que não necessariamente precisam ser lineares, e que gerem proventos. Desta forma, vemos que ativos como ações, fundos imobiliários e o Tesouro IPCA são aplicáveis com grandes retornos históricos, e todos geram proventos além do principal.
É justamente por conta desta relação ferramenta vs objetivo que é perigoso confundir os dois: aplicar em ativos previdenciários de longo prazo quando se busca um objetivo de curto prazo é uma receita de bolo para vender no fundo, ou ter muita frustração. Igualmente, investir com baixíssima rentabilidade quando somos jovens e temos tempo e margens de emergência financeiras abundantes é um disperdício a ser pago pelo seu próprio futuro.
Não podemos dizer que instrumentos como a poupança ou os bancos são inúteis, eles apenas são ferramentas diferentes que servem objetivos diferentes entre um e o outro. Igualmente, não podemos dizer que poupar ao invés de investir é errado, ou que investir sem poupar é a melhor coisa a se fazer; cada um em um determinado ponto de sua evolução financeira precisará realizar os dois em proporções diferentes. Ambos são ferramentas poderosas no seu arsenal financeiro para serem utilizadas em ocasiões específicas.
Você considera os atos de poupar e investir diferentes? Quais são as diferenças e suas aplicabilidade na sua opinião? Escreva nos comentários.
Abraços e seguimos em frente!
Pinguim Investidor
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