O caminho até a independência financeira é trilhado a partir de uma série de mudanças que desviam um indivíduo de uma vida medíocre até tomar ações que o levam para acumular capital o suficiente para viver apenas de renda passiva. O desafio maior desta mudança geralmente está no mindset da pessoa, que geralmente vem com crenças e conceitos já solidificados com experiência que precisam ser provados contra e trocados por conceitos melhores.
Durante o meu aprendizado, um dos maiores conceitos que me ajudou a me estabelecer no FIRE foi descobrir que o dinheiro, na sua forma produtiva como capital essencialmente funciona como uma fonte de liberdade individual. Quando me deparei com este conceito, minha abordagem à educação financeira mudou competamente. O aporte se tornou uma medida de libertação, e os gastos uma forma de aprisionamento.
Como podemos manter este mindset sempre em mente no dia a dia e proteger assim os aportes? Utilizando o conceito de F-you Money.
F-You money, e a melhor coisa que o dinheiro pode comprar
No seu livro The Simple Path to Wealth, J L Collins introduz um conceito chamado F-you money que ele descreve como sendo um fator crucial para chegar à independência financeira.
Em poucas palavras, F-you money é o instrumento que nos garante que a qualquer momento podemos recusar alguma coisa e sobreviver ao impacto das consequências. Se seu chefe lhe disser que terá que ficar além do expediente para fazer completar alguma tarefa, F-you money lhe assegura que você pode recusar o pedido, mesmo que lhe custe o emprego. Se você tem um cliente arrogante que gosta de humilhar a qualidade do seu trabalho, F-you money te habilita a cortar o contrato e nunca mais precisar lidar com ele novamente.
Em outras palavras, é o dinheiro que te habilita a mandar as suas irritações e desprazeres a irem se catar.
Collins deixa claro no livro que a segurança providenciada pelo F-you money depende da quantidade acumulada deste. Um pouco de F-you money pode proteger de algum desemprego a curto prazo, um pouco mais talvez consigam segurar um ano sabático, mas para atingir o último patamar de segurança, a quantidade deve significantemente maior. Dada uma quantidade suficiente de F-you money, a melhor coisa que se pode comprar é a liberdade.
Rebater este ponto é difícil: o que vale mais a pena comprar com o dinheiro que você tem – um carro? Uma casa nova? Ou a sua eterna liberdade financeira?
Manifestações do F-you money
A sua reserva de emergência, e as camadas que a compõem podem ser vistas como F-you money, tal como os seus investimentos e fontes de renda alternativas, fazendo que você dependa cada vez menos de uma única parte para sobreviver, além de providenciar oportunidade para que você possa adquirir alguma experiência ou bem independentemente das condições alheias. Além desta reserva, existem duas outras formas que o F-you money nos ajuda: capital e a razão dos aportes.
O primeiro já foi bastante explicado no blog e na finansfera, e se refere a aquele dinheiro extra (não-essencial) que é aplicada de alguma forma produtiva como investimento e, tomando-se um certo nível de risco, recebemos um retorno ao longo do tempo. É este o conceito famoso que Robert Kiyosaki usa quando define que os ricos fazem o dinheiro trabalhar por eles.
O conceito da razão dos aportes, porém, é pouco difundido aqui na finansfera. O conceito é puramente matemático, e explica quão poderoso é economizar e, mais importante, aportar de fato. Resumidamente falando, quanto mais você aporta, essencialmente mais “tempo livre” ou buffer está comprando para a sua vida.
De forma bruta, os números funcionam assim: uma pessoa que gasta 90% de todas as suas fontes de renda mensais aporta apenas 10%. Ela precisa de 9 meses para economizar o equivalente a 1 mês a mais de vida (9 x 10% = 90%). Porém, se ela aportar apenas 10% a mais, precisará trabalhar apenas 4 meses para juntar o mesmo tempo de vida. Economizando-se 40%, a razão baixa para 1.5 meses trabalhados para 1 mês de vida.
Aporte | Meses trabalhados para 1 mês de vida |
10% | 9 |
20% | 4 |
30% | 2.33 |
40% | 1.5 |
50% | 1 |
60% | 0.67 |
70% | 0.43 |
80% | 0.25 |
90% | 0.11 |
100% | 0 |
Aumentando-se gradativamente os aportes, vê-se que os números se tornam cada vez melhores para você, e, a partir dos 50% aportados, o jogo se inverte: você literalmente acumula mais tempo do que gasta trabalhando.
Esta fórmula pode ser calculada da forma Meses trabalhados = (1 - Aporte) / Aporte
, e já foi chamada anteriormente no blog como o Fator Pinguim por um leitor. Fico lisonjeado pelo elogio, mas não posso tomar completamente o crédito aqui. Este conceito poderoso me foi explicado no livro Early Retirement Extreme de Jacob Fisker.
Limitações do F-you Money
Assim como tudo na vida, nem tudo é flores sobre o F-you money, embora ele seja extremamente útil na maioria das vezes. Na procura por acumular o F-you Money, muitos se perdem em ganância, e isso não é uma estratégia vencedora a longo prazo.
Primeiramente, embora o F-you money seja uma medida proxy de liberdade, ele não te trará liberdade completa perante, por exemplo, à lei (tentar forçar isso se chama corrupção). Esta atitude de é só botar um dinheirinho que funciona é a base de uma sociedade desonesta e falida, em que infelizmente vivemos hoje em dia.
Mais importante, porém, é que o F-you Money se torna irrelevante caso outras medidas de liberdade da vida não o acompanhem; o exemplo mais claro é o da saúde. Vemos vários casos no trabalho onde alguém foca tanto na carreira, no emprego, caçando o dinheiro até se exaurir, adoecer e essencialmente se limitar de forma que não conseguirá aproveitar tal dinheiro que se esforçou tanto para conseguir.
E não é só fisicamente que estamos falando: vários exemplos de celebridades ou pessoas extremamente bem-sucedidas que possuem depressão e podem até chegar a se matar, como a Kate Spade e o ator Robin Williams, que já lidava com depressão há anos.
Em outras palavras, do que adianta “chegar lá,” se você não tem condições para poder aproveitar?
É por isso que o conceito base do F-you Money sempre deverá se manter o mesmo não importando o contexto: o dinheiro deve ser uma consequência da procura por liberdade, e não de ganância materialista. É apenas quem consegue se consientizar sobre este aspecto do dinheiro que realmente entende o seu poder. Não vale a pena gastar o dinheiro com algum passivo caro e efêmero só para correr atrás de mais depois e recomeçar o ciclo; é melhor viver da liberdade que ele oferece e se manter com os proventos por ele oferecidos.

Esta idéia de dinheiro como liberdade fora também explorada num artigo publicado pela Yuka no Viver sem pressa.
Apêndice: F-you Money Calculator
Enquanto estamos no assunto, o site Kopywriting Kourse oferece uma calculadora prática do F-you Money. Na verdade, não é muito diferente da boa e velha taxa de retirada segura (SWR) mas com taxa de juros editável. Ainda assim, existe alguma coisa mágica sobre este termo; dinheiro que te faz poder literalmente mandar qualquer um ir se catar é uma coisa extremamente desejável!
Como vocês apelidam o F-you money de vocês? Tem algum significado especial em suas vidas? Como vocês fazem para se regrarem e manterem os seus objetivos?
Abraços e seguimos em frente!
Pinguim Investidor
Para quem gostou deste post e está a fim de saber mais sobre o livro The Simple Path to Wealth de Collins, ele pode ser obtido aqui. É um livro interessantíssimo e didático, um pouco centrado nos EUA, mas os conceitos em geral são aplicáveis em qualquer ocasião para a independência financeira.
Oi Pinguim, sabe que quanto mais o meu patrimônio aumenta, menos estressada no trabalho eu fico? E é o princípio desse f-your money mesmo. Eu sei que a qualquer momento, se eu ficar pé da vida por causa do meu trabalho, eu simplesmente posso ir do RH da minha empresa e solicitar o meu desligamento. Saber disso, me faz não ficar estressada, consigo ficar calma mesmo nos momentos mais estressantes. Muito bom! Beijos.
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Oi Yuka!
É verdade, quanto maior o patrimônio, mais tranquilo eu fico. É melhor do que ficar ganancioso ou materialista, querendo viver hedonisticamente.
F-you Money está diretamente relacionado por este sentimento mesmo. Não penso tanto no negócio de pedir as contas quanto no fato que se meu chefe quiser que eu faça alguma coisa que não agregue valor posso recusar sem impacto psicológico nenhum pra mim.
Foquemos no objetivo e colheremos os resultados no futuro 😉
Abraços e seguimos em frente!
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É isso! Se fosse resumir aqui em uma única frase é: “Dinheiro é apenas um meio para alcançar um determinado fim”
Esse fim pode manifestar-se de várias formas, mas a principal é garantir sua liberdade de ser protagonista e decidir sobre sua própria vida.
Abraço!
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Perfeita descrição, VL!
Costumava dizer que o que conta no fim de tudo é a liberdade, e não o dinheiro, mas na sociedade moderna o dinheiro é o proxy mais próximo que temos à uma medida de liberdade. Não jogue sua liberdade no lixo através de um passivo bobo!
Abraços e seguimos em frente!
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Perfeita a lógica desse texto, como é bom ler coisas assim que fazem sentido para nossa cabeça de aportadores rsrs Assim como a Yuka, também consigo relaxar mais no meu negocio e serviço, não me cobrando tanto no dia a dia com desempenho e clientes chatos, se quer ir embora e falar mal do meu serviço, beleza cara, tchau! Mas isso porque eu poupo, guardo e invisto, se moesse toda minha grana, teria que me sujeitar a patrão montando em cima de mim e atender clientes babacas…
Abraço amigo
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Olá, Semeador!
É verdade, ler artigos dos outros blogueiros FIRE traz uma tranquilidade incrível mesmo né.
É realmente poderosíssimo estar numa posição de F-You Money suficientemente segura para não precisar de ninguém. Melhor não ter emprego abusivo e se garantir financeiramente do que depender do salário mas ter que gastar um pedaço com terapia, bebida, ou remédios para se “recuperar” dos danos causados por esse.
Proteja-se e bons aportes, meu caro. FIRE é o único caminho até a liberdade!
Abraços e seguimos em frente!
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