A renda passiva é tida por muitos como o Santo Graal da Independência Financeira. “Se você não encontrar um jeito de ganhar dinheiro enquanto dorme, você vai trabalhar até morrer” já dizia o Warren Buffett. Robert Kiyosaki, em seu livro Rich Dad’s guide to Investing, diz que o objetivo do investidor sofisticado é converter renda salarial em renda passiva ou renda de portfólio. E nem precisamos falar dos inúmeros vídeos do YouTube mencionando jeitos de se ganhar dinheiro de forma “passiva” pela internet.
Claramente, a renda passiva é importantíssima para a saúde financeira de qualquer indivíduo e, no caso dos mais ricos, ocupa a maior parte da renda recebida por eles. Porém, assim como muitos outros termos que caíram na moda, houve uma distorção no entendimento desta expressão, e assim muitos algumas pessoas se confundem sobre o que realmente implica a renda passiva e como ela funciona de na prática. Este post irá clarificar alguns desentendimentos comuns.
Primeiramente: o que é renda passiva?
Antes de começar, preciso esclarecer algumas coisas sobre o meu conceito de renda passiva que vou explicar neste post. Não vou dizer “fazer XYZ é renda passiva,” ou “investir em ABC traz renda passiva” porque não quero limitar as possibilidades dos leitores. Mas vou listar o que qualifica algo ou não como renda passiva para mim.
Basicamente, são dois critérios:
- A renda recebida não pode ser produto direto do seu trabalho. Se você precisa se dedicar diariamente, ou mais que algumas horas por dia pra receber essa renda, ela não é renda passiva: é um trabalho secundário.
- Não considero rendimentos de investimentos de renda fixa retirados pela regra dos 4% como renda passiva. Dividendos são OK.
1 – É renda passiva, e não renda-que-vem-sem-você-não-precisar-fazer-nada.
A maioria das pessoas quando ouve o termo “renda passiva” pensa na seguinte imagem:

Que paraíso, muitos pensam. Ganhou dinheiro sem mexer um dedo!
Este entendimento não está certo, mas também não está completamente errado. Veja, na renda passiva, há trabalho envolvido sim, a diferença é que o trabalho é indiretamente relacionado ao pagamento.
O cara não ganhou esse dinheiro todo completamente sem fazer nada. Por trás dessa remuneração “mágica” teve um grande esforço que ele teve que fazer para estabelecer o negócio dele online, o canal do YouTube ou página do Facebook que gerou a renda pra ele. A parte que você não viu foi que ele teve que passar um ano ganhando nada com o negócio dele até juntar massa crítica o suficiente para gerar movimento o suficiente e assim gerar renda.
Daí a relação indireta: foi necessário um esforço inicial que só muito depois deu frutos.
É por isso que ela é chamada de renda passiva, e não renda-que-vem-sem-você-não-precisar-fazer-nada.
PS: Se você descobrir como fazer esse último tipo de renda, por favor me ensine!
2 – Renda Passiva requer tempo, e geralmente muito!
Outro mito que permanece difundido é que é possível começar algum negócio e começar a obter renda passiva logo, logo. Afinal, todos esses caras que eu vejo no YouTube ganhando dinheiro online não têm mais que seus vinte e poucos, certo? Então não deve demorar!
Novamente as aparências aqui enganam.
Se a renda passiva, como vimos, requer uma quantidade de trabalho significativo pra começar, não podia ser diferente em relação ao tempo. Isso é verdade para todas as formas de renda passiva:
- Um portfólio de investimentos que paga renda passiva significante requer dinheiro acumulado ao longo de tempo para se consolidar. Investindo regularmente, pode levar uns 5 anos dependendo do aporte para gerar uma boa renda. Tentar ganhar dinheiro rápido investindo é suicídio.
- Um site de marketing afiliado requer um investimento de tempo e esforço para fazer o estudo de mercado, criar páginas com bom conteúdo, e trabalhar o SEO até que se ganhe dinheiro significante. O tempo dedicado aqui deve ser de alguns meses a um ano para criar um site de porte suficiente.
- Um canal do YouTube requer esforço contínuo até que se ganhe um volume de seguidores e visualizações suficiente para gerar uma renda passiva através de propagandas nos vídeos. O esforço diário é necessário, e o numa escala de tempo, pode demorar de 6 meses a alguns anos até “pegar no tranco.”
Como já dizia o ditado, tempo = dinheiro. A renda passiva não é exceção.
3 – Renda passiva possui risco
Uma imagem passada por quem já possui renda passiva suficiente é que a vida está ganha. Não há mais razão para trabalhar mais um minuto, pois o fluxo de caixa passivo que eles recebem irá cobrir todos os gastos que eles terão até o fim de suas vidas, certo?
Nem aqui a renda passiva é um mar de rosas. Há riscos envolvidos com a renda passiva sim, e ignorá-los pode marcar o fim da tão sonhada independência financeira.
Quais riscos, você pergunta?
- Um portfólio de investimentos possui o risco inerente da renda variável. Dividendos de ações ou FIIs se encaixam aqui. Cabe ao investidor revisar o seu portfólio com alguma regularidade para monitorar o risco.
- Um aluguel é diretamente dependente do inquilino. Se sua fonte de renda é composta por aluguéis, o impacto de uma vacância é enorme. Contrato de três anos ou não, aquela fonte ou parte dela pode se secar da noite pro dia.
- Nem mesmo renda online via propaganda (ex. Google Adsense) ou marketing afiliado está livre de risco. Mesmo gerando tráfego e recebendo, você não tem o controle sobre estas plataformas. Desta forma, se violar alguma cláusula, se incomodar alguém na cadeia de comando, ou até mesmo se deixar de produzir conteúdo, inclusive, pode chegar a perder a monetização. Recentemente isso foi visto com o canal do youtuber Pewdiepie.

Seria isso motivo para você não perseguir uma fonte de renda passiva? Claro que não. Mas a lição aqui é essa: sem realizar um trabalho esporádico de manutenção, reanalizar os investimentos, os negócios e as fontes de renda, etc, o risco aumenta.
E além do mais, o trabalho assalariado também já possui risco inerente. Se trabalha pro setor privado, ele se chama desemprego. No setor público, o atraso de salários também esteve nas manchetes durante a crise.
Conclusões
Quais são as conclusões do Pinguim sobre a formação de renda passiva?
- Obter renda passiva é crucial para consolidar a independência financeira, e deve ser usada em paralelo aos investimentos para acumulação de patrimônio.
- Esteja preparado e disposto a investir uma grande quantidade de tempo e esforço para adquirir uma renda passiva significante. Os retornos serão proporcionais.
- Diversifique as suas fontes. Além de diminuir o risco, as suas chances de aumentar o retorno são maiores. De fato, de acordo com um estudo feito nos Estados Unidos, os milionários em média possuem sete fontes de renda diferentes. De quantas você precisa?
- Não “largue de lado” as fontes uma vez que estiver confortável. Reveja e faça a manutenção de todas as suas fontes de renda passiva periodicamente. Você não quer perder aquilo que se esforçou tanto pra ganhar.
Analogia da bicicleta
Por fim, uma explicação prática é a analogia que faço com andar de bicicleta.
A renda salarial é como andar de bicicleta numa rua plana: você tem que pedalar para continuar andando, se parar de pedalar, vai parar de ir pra frente eventualmente.

A renda passiva, por outro lado, é como subir um morro. Você precisa fazer um grande esforço no começo para subir a ladeira, mas, se persistir no objetivo, eventualmente vai chegar ao topo do morro e daí poderá descer direto sem precisar pedalar.

E por enquanto, é isso aí. Até o próximo post, e rumo à independência financeira!
gostei da analogia com a bicicleta, faz todo o sentido.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Pingback: Educação Financeira #2 – Como começar a Investir? – Pinguim Investidor
Pingback: Reflexões: lições após 1 ano de aprendizado financeiro – Pinguim Investidor
Pinguim Investidor,
A analogia com a bicicleta ficou muito boa. Faz todo sentido.
Boa semana,
Simplicidade e Harmonia
CurtirCurtido por 1 pessoa
Valeu S&H!
Foi a coisa mais simples que consegui pensar quanto à relação Renda x Esforço.
Seguimos crescendo a nossa montanha de capital!
CurtirCurtido por 1 pessoa
Pingback: Educação Financeira #3: Investir não tem prazo – Pinguim Investidor
Pingback: O que um vendedor imobiliário me ensinou sobre independência financeira? – Pinguim Investidor
Pingback: Como a Finlândia ensina a ser feliz, e o que você pode aprender com isso – Pinguim Investidor
Pingback: Reflexões: o que aprendi no meu ano de desempregado – Pinguim Investidor
Pingback: A história do Pinguim Investidor – Pinguim Investidor
Pingback: Comentário do Pinguim #2 – Sobre a Tributação e Independência – Pinguim Investidor
Pingback: A melhor coisa que o dinheiro pode comprar: F-you Money – Pinguim Investidor
Pingback: FIRE no futuro: como acertar um alvo móvel? – Pinguim Investidor
Pingback: Confrontando o Cotidiano #6 – “Como isso é diferente de apostar num Jóquei?” – Pinguim Investidor
Pingback: Onde você lastreou sua felicidade? – Pinguim Investidor
Pingback: Atlas Quantum – uma tragédia de ganância, sardinhagem, e desonestidade – Pinguim Investidor
Pingback: Vida móvel e liberdade: lições de Amyr Klink para a comunidade FIRE – Pinguim Investidor
Pingback: Estudo de caso #2: presentes de grego financeiros – Pinguim Investidor
Pingback: A vantagem da escassez – Pinguim Investidor
Pingback: A percepção relativa humana e seus impactos nas finanças – Pinguim Investidor
Pingback: Dez anos depois: por que é tão difícil associar mudanças pequenas com grandes resultados? – Pinguim Investidor
Pingback: A verdadeira razão pela qual você odeia o seu trabalho – Pinguim Investidor
Pingback: Novas taxas da B3: como me impactam? – Pinguim Investidor
Pingback: Kit de Sobrevivência Japonês e o planejamento financeiro – Pinguim Investidor
Pingback: Qual é a importância do fluxo de caixa na busca do FIRE? – Pinguim Investidor
Pingback: Ouro é investimento? E prata? E o dólar? E bitcoin? – Pinguim Investidor
Pingback: Mais um emprego não vai te salvar – Pinguim Investidor
Pingback: Guest post Maluzeando Lettering: Cadê o Salário que estava aqui? – Pinguim Investidor
Pingback: Como funciona a margem de segurança nos investimentos? – Pinguim Investidor
Pingback: Retrospectiva do Pinguim 2020 – será que o ano foi tão ruim quanto disseram? – Pinguim Investidor