A análise de risco é essencial para se manter uma mente tranquila e evitar surpresas que venham a danificar o seu patrimônio. Aumentar a segurança financeira requer reposicionar e repensar as utilidades e liquidez de cada ativo do patrimônio, e assim tentar obter o patrimônio mais eficiente e seguro possível. O conselho que geralmente é passado é o passo a passo do: saia das dívidas, monte uma reserva de 3 a 6 meses de salário e a partir daí comece a investir.
Neste post, compartilho a estratégia que tenho utilizado para posicionar meus contingentes de emergências financeiras através do conceito de camadas, tal como utilizado no âmbito da segurança da informação.
Camada 0: Threat Modeling
Emergências são, por definição, imprevisíveis e portanto o planejamento deve sempre considerar as consequências da emergência mais impactante possível dentro da probabilidade aceitável de ocorrência. Este processo se chama Threat Modeling e pode se aplicar a diversas áreas além da segurança da informação.
Por exemplo: há um risco da sua casa e carro serem destruídos por uma chuva de meteoros ou guerra nuclear. Mas será que este risco tem probabilidade suficiente de ocorrer para você trabalhar para se resguardar contra ele? Provavelmente não (até porque se ocorresse não haveria o que você pudesse fazer pra proteger…), então este risco é deixado de fora do seu Threat Model.
Por outro lado, o risco da sua casa e carro serem destruídos por uma enchente pode ser real e bem alarmante dependendo de onde você vive. Isto torna este risco parte integral do seu Threat Model.
O objetivo do Threat Model é conseguir juntar riscos relevantes aos seus ativos com uma resposta própria para a resolução deles. Sem a criação desse, recursos demasiados podem ser utilizados para riscos pouco capazes de se materializar ou pior; o oposto resultando em danos no patrimônio.
Algumas coisas que incluo no meu Threat Model são: perda e dano no imóvel, emergências médicas, viagens inesperadas (embora positivas, seus efeitos no patrimônio são idênticos a um risco), etc.
Camada 1: Colchão de Emergência

A função do colchão de emergência é proteger contra uma emergência imediata, tal como um colchão protege a queda de um corpo. Sendo assim, requer liquidez imediata e não deve ter planejamento estratégico de rendimento exceto por reajuste inflacionário a cada 5 anos. É idealmente colocado na conta corrente ou poupança, e não busca rendimentos.
Esta é a camada que você precisa prencher imprenscindivelmente antes de começar a investir, pois é a primeira defesa contra os problemas que poderão surgir contra o seu patrimônio (perda de renda, etc). Dependendo da liquidez dos seus outros ativos, e de quão variável é a sua renda mensal, o colchão deve ser equivalente a 3 a 6 meses dos seus gastos mensais.
Há quem diga que parte deste colchão pode ser composto de investimentos com liquidez diária como ações ou o Tesouro Selic, mas eu discordo. No momento de uma emergência, pode não haver tempo para liquidar estes ativos (fim de semana, indisponibilidade…), embora estes sejam úteis para a próxima camada.
Camada 2: Reserva de Emergência
A diferença entre a reserva de emergência e o colchão é que o uso da reserva pode tolerar alguns dias de espera por falta de liquidez ou para ser usada estrategicamente, ao ponto que o colchão é imediatista. Por exemplo, investimentos com liquidez diária ou com resgate em poucos dias como o Tesouro Selic (que não tem possibilidade de rentabilidade negativa ao contrário do IPCA) podem ser utilizados enquanto que a reserva busque algum rendimento enquanto não é utilizada.
A reserva cobre quantias maiores para as quais apenas havendo o colchão significaria perder rendimentos sem nenhuma segurança adicional. Sendo assim, pode ser utilizada como complemento ao colchão, e por isso idealmente deve permitir resgates parciais para não comprometer o rendimento principal.
A quantidade ideal varia de acordo com o seu planejamento pessoal, mas mantendo a segurança do colchão em primeiro lugar, pode ocupar algo entre 20% a 40% do seu patrimônio dependendo da sua alocação de ativos.
Camada 3: ativos conversíveis
Em último lugar, parte de alguns ativos podem ser liquidados como fonte de dinheiro mais imediato do que tocando o principal da carteira de investimentos. Em particular, parte de uma carteira de ações e FIIs (mais estáveis) pode ser vendida para se obter dinheiro líquido em troca de uma diminuição da renda de dividendos. Esta deve ser a última opção do investidor, e somente utilizada quando as duas camadas anteriores forem esgotadas.
No final do exercício, o patrimônio do investidor se torna parecido com este:

Atenção à reposição
Importante frisar que, embora a formação das camadas de segurança sejam imprenscindíveis, igualmente importante é a manutenção destas camadas, particularmente após o uso destas.
Outro detalhe é que a camada do colchão de emergência não recebe rendimentos equalizantes a inflação, e portanto, deve ser reavaliado de tempos em tempos para os custos atuais.
Exemplo prático
Por fim, vamos botar tudo em prática com um exercício. Suponha que o investidor avaliou seu Threat Model da seguinte manteira:
Ameaça | Risco | Urgência | Impacto R$ |
Dano à casa por enchente | Médio | Alta | 15000 |
Perda da casa por enchente | Baixo | Média | 50000 |
Dano ao carro | Médio | Média | 10000 |
Viagem inesperada | Médio | Média | 5000 |
Emergência médica | Baixo | Alta | 8000 |
Problemas legais (multas, processos) | Baixo | Média | 5000 |
Neste exemplo, o investidor analisa o risco e urgência de cada uma das ameaças e decide o quanto colocar em cada uma de suas camadas. Um possível arranjo, baseado no modelo acima seria:
- Colchão: emergências médicas + dano à casa = R$23000 colocados na poupança
- Reserva: demais ameaças = R$70000 colocados no Tesouro Selic
Lembrando que isto é apenas um exemplo, e que para cada um destes são necessários avaliar do ponto de vista da tolerância de risco de cada indivíduo.
E vocês, finansfera, utilizam alguma estratégia para gerenciar estas emergências?
Abraços!
Excelente post, gerenciamento de risco é o caminho.
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É isso aí Pracinha… mas ainda faltou falar sobre diversificação de portfólio e outras coisas pra escrever depois.
Já tenho utilizado o conceito de Threat Modeling há um tempo desde que trabalhei com segurança da informação, e descobri que ele se aplica muito bem para esse tipo de análise.
Abraços!
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